Texto: Evellin Portugal
Fotos: Ingrid Rísia Fotografia
Durante muito tempo, eles foram chamados de “ruins” e passavam por tratamentos químicos, como alisamentos definitivos e progressivos. Mas, de um tempo pra cá, os cabelos cacheados e crespos têm recebido uma atenção especial e se destacado cada vez mais. Hoje, eles são sinônimos de orgulho, aceitação, atitude e estilo.
Em todos os lugares é possível encontrar mulheres que estão em fase de ou já concluíram a chamada transição capilar. Neste processo, que inclui a quebra de padrões impostos pela sociedade, as partes alisadas são cortadas, dando espaço ao cabelo natural. E, muito mais do que a recuperação dos fios, esse movimento garante o resgate da identidade e o aumento da autoestima.
Assumir os cachos ou o black power (poder negro), no entanto, não é apenas uma questão estética, mas algo que melhora a saúde dos cabelos. Foi pensando nisso que a administradora Andressa Ferreira, 23 anos, decidiu mudar.
Em entrevista à revista Bellas, a jovem itabunense conta que começou a alisar o cabelo ainda na infância. “Eu achava que só estaria bonita com o cabelo liso. Queria soltá-lo, como minhas amiguinhas do colégio usavam. Antes de alisar, usava sempre preso, trançado”, lembra.
Ela afirma que abusou do secador e prancha dos sete aos 22 anos, o que danificou os fios, deixando-os opacos e quebradiços. Insatisfeita com a (falta de) saúde capilar, Andressa começou a pesquisar sobre o assunto em sites e nas redes sociais. “Entendi que o processo de melhoria teria maiores resultados sem a utilização de química. Então, passei a me enxergar de outra forma e decidi fazer a transição. Somente depois comuniquei ao meu esposo, família e amigas”, relata.
A moça também se inspirou na irmã mais nova, Amanda Santos, que já havia iniciado a transição cerca de dois anos antes. Entretanto, diferente da irmã, que fez o big chop (grande corte) e passou a máquina 1 na cabeça, Andressa optou pela texturização.
Seguindo uma rotina de tratamento, ela foi dando um aspecto cacheado às partes alisadas e cortando-as aos poucos, até deixar totalmente natural. “Meu maior incentivo era descobrir como meu cabelo realmente era e sempre olhava o relato de outras meninas e as comparações “before x after“. Hoje continuo com o cronograma capilar (hidratação, nutrição e reconstrução) de três em três dias e faço umectação quinzenalmente”, detalha.
Liberdade e poder
De acordo com a administradora, assumir o cabelo liberta a beleza natural de cada pessoa. “Apesar de a mudança ser visível externamente, a maior mudança é interna. Particularmente, houve um reforço de identidade e valorização das minhas raízes, do povo africano, a trajetória de luta e afirmação”, revela.
Sentindo-se muito mais bonita e poderosa, ela é categórica ao afirmar que a transição foi a melhor escolha que fez: “Sei que tudo tem seu tempo, mas me arrependo de não ter decidido antes. Eu me sinto mais linda, confiante e empoderada”.
Ela ainda dá um conselho para as mulheres que estão pensando em iniciar ou que já estão em processo de mudança: “Persistam e sejam disciplinadas. Não há luta sem vitória. Vale muito a pena. E que a decisão não seja uma imposição da mídia, senão estaremos caindo na mesma cilada da ditadura do cabelo liso, mas que seja uma decisão particular”. E finaliza: “Tenha amor próprio, ame seu cabelo”.
Dicas
A Bellas lhe dá algumas dicas para que você passe pela transição capilar de uma maneira mais tranquila:
– Tenha paciência. Nos dias difíceis, lembre-se que a transição é apenas uma fase. Quando ela passar, o resultado vai ser maravilhoso! Este também é um período de autoconhecimento e aceitação;
– Procure relatos que ajudam a motivar. Com uma simples busca na internet, é possível encontrar uma infinidade de mulheres que encararam a transformação. Leia essas experiências e salve todas as informações possíveis;
– Mantenha hábitos saudáveis. Além da utilização de produtos apropriados para cada fase, a alimentação também influencia na saúde capilar. Ingerir todos os nutrientes necessários é tão importante quanto cuidar dos fios externamente;
– Abuse das texturizações. Existem inúmeras técnicas para estilizar a parte que ainda está alisada, como coquinhos, twists (entrelaçar duas mechas de cabelo, da raiz às pontas), bigudins, tranças, entre outras;
– Aposte nos acessórios. Faixas, turbantes, lenços, tiaras e bandanas são bem-vindos nesse período;
– Mude o foco. Se ainda não está se sentindo à vontade com o cabelo, invista na maquiagem, no look e, principalmente, no sorriso! Lembre-se de que não somos só um cabelo. Somos lindas como um todo.
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