Por Celina Santos
Ele é personagem real de verdadeiras lendas desde que foi prefeito de Itabuna e teria despertado a esperança de fazer a praia chegar até aqui; sempre atiçou comentários ao desfilar pelas ruas em um Del Rey da década de 80/90 – veículo, digamos, um tanto cansado.
Aqui damos umas pistas rasas e o leitor logo chega ao nome de José Oduque Teixeira, figura bastante presente no imaginário da cidade. Desta quinta-feira (18) a exatos cinco meses, ele completará 100 anos! Como está a rotina do famoso empresário e ex-gestor depois de vencer, meses atrás, um princípio de infarto?
Oduque ficou internado por, aproximadamente, duas semanas no Hospital Calixto Midlej Filho. Desde então, fica todo o tempo em casa, no bairro Góes Calmon, com a esposa Almenaide, de 93 anos, e o auxílio de empregadas domésticas. O relacionamento do casal, que tem duas filhas e um filho, começou quando a então menina tinha 14 anos.
Apetite, vaidade e cidadania
A residência recebe a visita de profissionais de saúde, que atestam: o coração dele vai muito bem, obrigado! Vaidoso, recorre a uma funcionária para lhe pintar os cabelos, cujos fios brancos nunca deixou aparecer. Aliás, sempre foi assim, não é? A imagem do paletó bege e das madeixas impecavelmente tingidas é ícone sempre lembrado.
Um hábito crucial quando se fala em saúde é comer direitinho, hein? Pois então! No café da manhã, Oduque segue com um desjejum mais farto. Apetite não lhe falta. No almoço, a comida é pastosa, para facilitar a digestão. Tudo sob orientação médica.
Atento, assiste aos telejornais, para saber o que acontece no mundo. Afinal, o bate-papo presencial, através de visitas, não é permitido. Como acabamos de passar por uma pandemia, havemos de aceitar que “todo cuidado é pouco” (permitam-me o clichê).
Então, é o mesmo cidadão, lúcido, que busca acompanhar o que acontece ao seu redor. O apreço pela democracia sempre foi nítido nesse rapaz, inclusive na disposição para ir votar.
Apesar de não ser mais obrigado a ir às urnas após 70 anos, ele foi fotografado na cabine eleitoral, no pleito de 2022. Exemplar, estava a postos para escolher representantes à Presidência, Senado, Câmara dos Deputados, Assembleia Legislativa e governo estadual.
Fica entre nós, ok?
O Diário Bahia foi em busca das informações acima compartilhadas, mas nos reservamos ao direito de preservar a identidade das fontes ouvidas. Como nossa sede foi vizinha ao escritório de Oduque na avenida do Cinquentenário, tivemos a oportunidade de conviver e entrevistá-lo mais de uma vez.
Por ora, fica a torcida para poder felicitá-lo no aniversário de um século de vida. Enquanto isso, o leitor pode relembrar a conversa que tivemos em 2013, pouco depois dos 90 anos do sergipano mais do que itabunense. Nessa conversa, procuramos saber sobre a fama de ser contido nos gastos.
Com a missão de tirar uma curiosidade geral, indagamos: Apesar de ser um homem de posses, o senhor tem um carro simples e parece ter hábitos também simples. Com o quê gasta dinheiro? Ao que nosso ex-vizinho respondeu, com serenidade: “Olha, eu tenho como fundamento na minha vida olhar o meu semelhante, sobretudo, os meus familiares. Sou filho de uma família pobre. Meu pai casou-se com minha mãe e tiveram sete, oito filhos que foram, naturalmente, criados sem nenhuma instrução. Eu fui mais feliz, porque minha tia me trouxe aqui para o sul quando eu tinha 16 anos e procurei a estrada mais capaz de prosseguir”.
E continuou explicando como lida com o aspecto financeiro, tão caro (parece até trocadilho) à maioria das pessoas. “… não tenho condições de alimentar a vida financeira de ninguém, nem olho esse aspecto. Devido à minha simplicidade familiar, não sou homem de ter helicóptero, ter avião próprio, ter automóvel de luxo. Eu tenho um automóvel tirado aqui na antiga firma Oduque Veículos, que eu uso, é muito bom e me serve; tenho também duas caminhonetes para transporte de pequenos materiais de construção. O meu ‘Del Rey’, ou seja, o meu ‘lata-velha’ resolve bem os meus trabalhos. E eu não tenho nenhum desejo, nenhuma vontade de ter coisas de luxo”.
Para quem deseja (re)ler a entrevista aqui mencionada, basta clicar aqui.